Roberto Alban Galeria

Movimento Repouso

Raul Mourão

Exposição12/Setembro até 24/Outubro, 2013

ROBERTO ALBAN GALERIA DE ARTE APRESENTA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DO ARTISTA CARIOCA RAUL MOURÃO 

Movimento Repouso é o título da primeira exposição do artista carioca em Salvador. A exposição inédita e inteiramente pensada para o espaço da galeria, reune um conjunto de 10 esculturas em aço Corten e 34 fotografias realizadas entre 2012 e 2013.

“Desde 2010 venho desenvolvendo uma série de esculturas cinéticas que já foram apresentadas em Porto Alegre, Rio, SP, NY e Londres. É uma série bastante lúdica que requer a participação do público. É o toque do espectador na obra que aciona o movimento e cria uma nova condição da escultura, um segundo momento vivo” diz o artista.

Além das esculturas cinéticas o artista apresentará 34 fotografias da série Timeline iniciada em 2012

“São instantâneos da vida, fotos do dia a dia, um olhar em busca de pequenos acidentes visuais. Comecei a fotografar no fim dos anos 80 quando estudava no Parque Lage, alí eram anotações visuais da paisagem urbana que depois se transformaram na série Grades. Nos últimos anos andava afastado da fotografia mas em 2012 iniciei a série TIMELINE onde novamente me debruço sobre a paisagem da cidade e suas sub arquiteturas. É um exercício anarquico de observação permanente, a fotografia bate na cara como um tapa, não é uma imagem construida, produzida. Não há a postura solene de sair em busca da foto, é ela que se apresenta.” diz o artista.

No texto do catálogo o ensaista, pesquisador e professor de literatura Frederico Coelho comenta o título da exposição: "Nesses dias de renovação à fórceps da realidade politica e social do país, evocar um Movimento que nos peça o repouso é um convite irrecusável. Não de esvaziamento, mas de renovação. Repousar os olhos sobre as obras, repousar as mãos sobre os balanços, repousar os dias sobre a arte, para, quem sabe, renovarmos as energias. Afinal, todo o menor movimento – seja do aço, seja dos homens – será sempre uma revolução."

Sobre o artista
Raul Mourão é artista plástico, nasceu no Rio de Janeiro em 1967, estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e atualmente vive e trabalha entre NY e Rio. Apresenta seu trabalho em exposições individuais e coletivas desde 1991. Suas obras, construídas com diversos materiais, desenvolvem um vocabulário plástico com elementos da visualidade urbana deslocados de seu contexto usual. Entre eles há referências ao esporte, à arquitetura, aos botequins e à sinalização de obras públicas.
Em 2010 iniciou sua série de esculturas cinéticas que foram exibidas nas seguintes exposições individuais: Tração Animal, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Homenagem ao Cubo, na Lurixs Arte Contemporânea, Rio de Janeiro; Processo, no Studio X, Rio de Janeiro; Toque Devagar, na Praça Tiradentes, Rio de Janeiro; Balanço Geral, no Atelier Subterrânea, Porto Alegre; Cuidado Quente, na Galeria Nara Roesler, São Paulo; e Chão, Parede e Gente, na Galeria Lurixs, Rio de Janeiro. E também nas exposições coletivas Projetos (in)Provados, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro; Ponto de Equilíbrio, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo; Mostra Paralela 2010, no Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo; Travessias, no Centro de Arte Bela Maré, Rio de Janeiro; e From the Margin to The Edge, Sommerset House, Londres.
Como curador e produtor organizou exposições individuais de Fernanda Gomes, Cabelo, Tatiana Grinberg, Brigida Baltar e João Modé, entre outras, e as coletivas Travessias 2 (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro), Love’s House (Hotel Love’s House, Rio de Janeiro) e Outra Coisa (Museu da Vale, Vila Velha). Foi editor das revistas de arte O Carioca e Item. Fez também a coordenação geral do espetáculo multimídia FreeZone, que reuniu artistas de diversas áreas sob curadoria do poeta Chacal, no Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. Junto com Eduardo Coimbra, Luiza Mello e Ricardo Basbaum criou e dirigiu a galeria e produtora AGORA, que funcionou na Lapa, Rio de Janeiro, entre 2000 e 2002.
Em 2005 lançou o livro ARTEBRA pela editora Casa da Palavra e em 2011 lançou o livro MOV pela Automatica Edições.

Aberto para balanço
Autor:Frederico Coelho

Desde 2010 Raul Mourão vem trabalhando com esculturas cinéticas. Sua pesquisa sobre materiais e movimentos trouxe uma nova rota estética para sua obra. Em uma trajetória marcada pelo ecletismo de meios e frentes de ação, Raul mergulhou nesse universo e se concentrou por um período em seus balanços. Suas últimas exposições exploraram as múltiplas possibilidades nessa relação entre a matéria bruta do aço e sua leveza através de sutis movimentos pendulares. Se antes sua obra podia as vezes encarcerar o olhar entre grades, a partir dos balanços ela passou a chamar o espectador para dançar.

Sua nova safra de balanços, feita especialmente para esta exposição, nos mostra como os temas e as formas dessas esculturas permanecem se ampliando em uma espécie de análise combinatória infinita. A engenharia do equilíbrio se torna cada vez mais difusa e lúdica. As formas ficam livres para quebrar uma aparência de contenção em prol de uma salutar dispersão de ideias. Isso ocorre porque, apesar da rigidez do aço cortem, elas surgem de desenhos feitos por Raul. Na origem dessas esculturas racionais e metálicas, há o traço livre e onírico da mão do desenhista. De certa forma, podemos enxergar nesses atuais balanços, diálogos internos com trabalhos anteriores dele, como as primeiras esculturas na exposição “Humanos” (1993) ou os trabalhos de “cadernos de anotações”(2003). Em todos, vemos o traço do desenhista criando formas geométricas e, ao mesmo tempo, orgânicas, para depois ajustá-las à demanda de materiais não-maleáveis, como o metal. 

Em MOVIMENTO REPOUSO, portanto, Raul permanece expandindo as possibilidades de sua pesquisa, porém com um novo elemento em jogo: a transitoriedade. Raul vive atualmente em Manhattan, Estados Unidos. O dia a dia em seu ateliê no bairro carioca da Lapa é substituído pelo ritmo frenético da “babilônia” norte-americana. Artista sempre atento e guiado pelas ruas, Raul rapidamente transformou as esquinas de Manhattan em suas. Com seu celular, capturou através de fotos os pontos cegos, os desvios do olhar, as aproximações das formas universais, transformando objetos e cenas do cotidiano urbano em pequenos microcosmos universais. São micronarrativas das falhas, das luzes, das cores, dos objetos. Suas fotos, ao lado dos atuais balanços, nos mostram que Raul volta a investir nos multimeios de exibição da obra, procurando novamente uma espécie de maior amplitude.

O artista que vive entre países, entre cidades, entre línguas, passa a por em xeque um espaço confortável de ação e precisa se adaptar ao componente híbrido que se instala nas suas obras e no seu olhar para o mundo. Uma espécie de esfacelamento das certezas impele Raul a reinventar referências e não separar sua vida cotidiana nas ruas (fotos) com seu trabalho reflexivo sobre a linguagem (os balanços). Neste momento, a duplicidade (de cidades, de meios) e a perspectiva fora de lugar das imagens fotográficas são indícios de um momento em que pesquisa e reflexão, ação e contemplação, se ajustam no espaço expositivo e dialogam de formas múltiplas com o público e entre si.  

Em conversas antes de sua viagem para viver em Manhattan, Raul Mourão citava um nome para um projeto de trabalho durante a estadia inicial na cidade. O nome: Landing Project. Um projeto feito por quem está pousando em uma nova realidade. Talvez por uma relação imperceptível, a escolha do verbo repousar como título desta exposição alude diretamente ao projeto traçado ainda no Brasil. Pousar/repousar ideias, corpos, obras, vidas. Creio, porém, que aqui, o seu MOVIMENTO REPOUSO seja muito mais do que isso. Nesses dias de renovação à fórceps da realidade politica e social do país, evocar um Movimento que nos peça o repouso é um convite irrecusável. Não de esvaziamento, mas de renovação. Repousar os olhos sobre as obras, repousar as mãos sobre os balanços, repousar os dias sobre a arte, para, quem sabe, renovarmos as energias. Afinal, todo o menor movimento – seja do aço, seja dos homens – será sempre uma revolução.

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